Presidente da Rússia invadiu o país vizinho em fevereiro, mas chama ação das Forças Armadas de ‘operação militar especial’
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. Nos últimos três meses, porém, o que o Ocidente tem chamado de guerra se trata de uma “operação militar especial”, que tem como objetivo “desnazificar” o território vizinho e interromper uma suposta perseguição aos russos no país.
Apesar dos bombardeios, milhares de mortos e milhões de refugiados, a Rússia não reconhece legalmente a operação militar como uma guerra. Se na prática não muda tanto o panorama ucraniano, na teoria o assunto já se torna um pouco diferente.
Segundo o professor de relações internacionais da ESPM-RS Roberto Uebel, não há grandes expectativas de que Putin declare guerra à Ucrânia, já que para o mandatário as ações militares no território vizinho não são um ataque.
“[A declaração de guerra] não aconteceu e duvido muito que vá acontecer porque, na perspectiva russa, na lógica do presidente, ele não está atacando um Estado estrangeiro. Ele está fazendo uma operação militar em defesa dos interesses russos, da população russa na Ucrânia”, diz Uebel ao R7.
Para as relações internacionais, as ações em território ucraniano são atos de guerra, apesar de Putin não interpretar a invasão dessa forma.
O professor afirma que uma possível declaração de guerra obrigaria Putin a respeitar uma série de tratados assinados que impõem limites às ações de exércitos em território estrangeiro.
“Quando você declara guerra a um país, um país declara guerra ao outro, há uma série de normas a serem cumpridas. Há, inclusive, o direito da guerra, que é justamente para a proteção da população civil, proteção de hospitais. Ou seja, locais especiais para atendimento dos feridos e das pessoas deslocadas.”
Independentemente da interpretação russa do significado das ações na Ucrânia, os crimes supostamente cometidos por tropas russas serão julgados a partir dos tratados de guerra.
“A própria ONU já está se debruçando para investigar possíveis e prováveis atos de guerra cometidos pelas tropas russas no território ucraniano. Uma das principais consequências disso já é o fluxo de 8 milhões de refugiados ucranianos, que é um dos maiores da história e o maior desde a Segunda Guerra Mundial”, conclui Uebel.
As leis russas proíbem que pessoas no país usem o termo 'guerra' para se referenciar ao conflito armado na Ucrânia. Ao invés disso, os moradores da Rússia devem chamar o confronto de operação militar especial. Mas qual a diferença entre guerra, operação militar especial e outras missões, como as de paz?
O professor de relações internacionais da ESPM-RS, Roberto Uebel, conta ao R7 que usa um conceito do general prussiano Carl von Clausewitz para explicar aos seus alunos o que é a guerra[Von Clausewitz] fala que a guerra no sentido da geopolítica é quando você tem um ataque de um Estado a outro e há uma resposta do Estado atacado. Então, lá no começo da invasão russa-ucraniana, a gente não chamava de guerra porque não existia uma resposta, de fato, da Ucrânia', explica UebelA tão defendida operação militar especial de Putin, porém, se trata simplesmente de uma guerra, conta Hubel. Apesar do termo não poder ser utilizado na Rússia, as características do conflito apontam para a explicação dada por von Clausewitz por volta do século 18'Na realidade, uma operação militar especial não deixa de ser um ato de guerra. Então, isso faz parte daquela guerra de narrativas na qual Rússia e Ucrânia fazem parte, mas a gente não pode dizer que, por exemplo, os ataques que estão ocorrendo hoje na Ucrânia seriam uma simples operação militar', destaca Uebel