Antes de divulgar fotos do relatório da Abin, senador usava as redes sociais para atacar as instituições
Alvo de uma operação da Polícia Federal por um suposto plano de golpe e postagens antidemocráticas, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) vinha usando suas redes sociais para atacar as instituições. Antes de divulgar o relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nesta quarta-feira, o parlamentar já havia chamado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de "traidor da pátria" e minimizado o financiamento dos atos na frente dos Quartéis-Generais.
Em 26 de maio, em sua conta do Twitter agora retida por decisão judicial, Marcos do Val questionou Moraes sobre a licitude de descumprir a Constituição Federal sob o argumento de que busca protegê-la. Em seguida, o parlamentar evocou o ex-deputado Ulysses Guimarães. "A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia".
Este foi apenas um dos ataques que vinha fazendo ao ministro, quem autorizou judicialmente a operação desta quinta-feira. As críticas também ocorriam no plenário do Senado Federal. Em maio, chamou Moraes de "monocrático" em discurso.
Mais recentemente, no último domingo, o senador afirmou que os acampamentos montados na porta dos QG's não foram financiados por empresários e sim receberam doações de produtores rurais.
"Imagens inéditas sobre o dia 08 de janeiro. Não havia empresários financiando o acampamento, tinha produtores fazendo doações. Depois irei soltar outras imagens inéditas", escreveu no Twiiter.
Na véspera da operação, o senador divulgou um relatório da Abin, insinuando que Alexandre de Moraes, o ministro da Justiça Flávio Dino e o presidente Lula teriam agido com prevaricação nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.
"Agora vocês irão entender o medo que o governo do Lula estava e porque eles estavam tentando de tudo para não ter a CPMI! Contra fatos não há argumentos! Complementando, a ida do presidente Lula para Araraquara foi uma fuga, porque não estava na agenda oficial do presidente", afirmou.
Esta, no entanto, não foi a primeira vez que Marcos do Val fez menção aos serviços da agência de inteligência em suas redes sociais. Em abril, o parlamentar publicou um story no Instagram de um suposto relatório que faria Dino e Lula deixarem o poder. A imagem, no entanto, tratava-se de um calendário.
O argumento de que os cargos de Dino e Lula estavam ameaçados por ele se repetiu em diversas ocasiões. Em 17 de maio, no Twitter, ele publicou a imagem de um pendrive junto a legenda: "Abaixo está um pendrive com muitas imagens bombásticas feitas por drones e também documentos que juntos serão suficientes para a queda do Ministro Flávio Dino e do presidente Lula! Já estou indo direto para guarda-lo no cofre", disse.
Ameaça a Lula
Em abril, Marcos do Val publicou em suas redes uma montagem em que que colocava o presidente Lula imobilizado no chão, com pés e mãos amarrados e a legenda "O título está livre". O parlamentar usou como base uma foto original do período em que integrava a Swat — grupo especializado da polícia norte-americana — e trocou o rosto do colega pelo de Lula.
O parlamentar aparece de pé, com os braços cruzados e de óculos escuros, junto à palavra "CPMI". A imagem foi alvo de críticas de internautas.
Plano de golpe
Em fevereiro, o parlamentar afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira teriam solicitado que gravasse um encontro com Alexandre de Moraes, no intuito de descobrir algo que incriminasse o magistrado e provocasse uma crise política no país, evitando a posse do presidente Lula (PT). De acordo com o senador, equipamentos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) seriam usados para gravar conversas com o ministro.
Na época, ele afirmou que o convite foi feito por Silveira no Senado, e reforçado pelo próprio Bolsonaro em uma ligação.
— Ele disse que o presidente queria conversar comigo. Pelo telefone dele mesmo, ele ligou para o presidente e o presidente perguntou se eu poderia encontrar com ele naquela hora — disse em live.
De acordo com o relato inicial do senador, ele não teria aceitado participar do plano e, por isso, teria denunciado prontamente, apesar das investidas de Daniel Silveira. No entanto, mudou de versões em algumas ocasiões e, na mais recente, afirmou ter "manipulado" o noticiário com informações desencontradas de forma intencional.
Após o caso, Moraes iniciou uma investigação contra o parlamentar por falso testemunho, denunciação caluniosa e coação no curso do processo. Nesta quinta-feira, por este suposto plano de golpe e ainda por postagens antidemocráticas, ele se tornou alvo da PF.
Fonte: O GLOBO