Estimativa é de economista da FGV. Mas crescimento mais lento da população impõe desafios para a expansão da economia
A população menor captada pelo Censo 2022, abaixo das projeções do próprio IBGE, aumenta o Produto Interno Bruto ( PIB) per capita do país em 5,8%. O indicador chega a R$ 48.828 por brasileiro no ano passado, de acordo com os cálculos feitos pela economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Silvia Matos. Frente a 2010, data do último Censo populacional, a alta seria perto de 5%, diz a pesquisadora.
Projeções anteriores ao Censo mostravam a população crescendo 1% ao ano desde 2010, mas a taxa apurada pelo IBGE para o período foi praticamente a metade: 0,52% ao ano. O tamanho atual da população, de 203 milhões de habitantes, também foi menor que o estimado anteriormente.
Isso aumentou a participação de cada cidadão no PIB, a soma de bens e serviços produzidos no país. A renda gerada por pessoa em 2022 divulgada pelo IBGE no fim do ano passado com base nas estimativas havia sido de R$ 46.154:
— A alta do PIB per capita de 2010 a 2022, quase quadruplica com a população menor. Antes, estimávamos alta de 1,3% acumulado no período. Agora, foi para 4,9%.
O lado negativo é que o crescimento menor da população tende a tirar dinamismo da economia brasileira, com menor oferta de mão de obra, observa o economista Marcelo Neri, da FGV Social, que calculou em 5,4% a alta da renda per capita entre os censos:
— O crescimento menor acompanhado de maior envelhecimento da população vai reduzir a taxa de crescimento potencial do Brasil.
Desemprego menor
Maria Andréia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que, no mercado de trabalho, o Brasil vai precisar gerar menos empregos para manter a taxa de desemprego baixa:
— Nos próximos anos, mesmo que a economia não esteja gerando muito emprego, haverá menos pessoas à procura de uma vaga.
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Salários podem subir, avalia a pesquisadora. Como nossa estrutura econômica não tem nível tecnológico que possa prescindir de mão de obra, a menor oferta pode aumentar o custo do trabalhador:
—E muita gente que estaria fora da força de trabalho, com mercado mais aquecido e melhores salários, pode voltar.
O economista Daniel Duque, da FGV, diz que essa taxa de crescimento populacional tão baixa prejudica o financiamento da Previdência Social:
—Estávamos esperando alguns milhões de crianças que iam crescer e trabalhar. Essas pessoas não existem. E a população está envelhecendo rapidamente. São menos crianças nascidas que daqui a 20 anos poderiam estar contribuindo.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, alerta que o país está envelhecendo sem ter enriquecido.
— O bônus demográfico (população jovem e adulta em alta) das últimas décadas está se esvaindo num ritmo mais rápido que se imaginava. É menos produtividade e mais custo fiscal e de Previdência.
O IBGE informou que não foi definida data para a incorporação dos dados do Censo à Pnad Contínua, que retrata o mercado de trabalho e depende da divisão da população por idade e sexo, o que ainda não foi divulgado pelo novo Censo.
Fonte: O GLOBO