Com equipe formada majoritariamente por pessoas pretas, jogo visa ampliar conhecimento de jovens a respeito da história do Brasil, sob perspectiva decolonial
Caminhar pelo Quilombo dos Palmares na forma como ele era há 400 anos, explorando os costumes, a relação com a natureza, a organização do trabalho e a defesa do território, se tornou possível de uma forma mais fácil que se imagina com a ajuda da tecnologia.
O maior refúgio de escravizados já registrado no Brasil, que sobreviveu por cerca de cem anos, foi reconstruído pela desenvolvedora brasileira Salve Games, que integra o ecossistema criativo PretaHub, em um novo mapa de Fortnite.
O Fortnite é um dos jogos on-line mais populares do mundo, e o novo mapa se chama "Zumbi dos Palmares". O ambiente digital retrata fielmente o quilombo e a história de seu líder e maior herói.
Com previsão de lançamento para fevereiro de 2024, o mapa, que faz parte do chamado "Modo Criativo" do jogo, permite que os jogadores explorem toda a região do Quilombo dos Palmares com a intenção de protegê-lo de invasores.
Em paralelo ao modo principal do Fortnite, que pressupõe a sobrevivência de somente um jogador ao final, nesta versão, o intuito é preservar, em grupo, o território que abrigava escravizados que conseguiam escapar das senzalas e seus senhores.
O jogo aborda a luta dos antepassados pela liberdade, resgatando a trajetória de grandes figuras da História, como Zumbi dos Palmares. Para a criação, além de contar com uma equipe de historiadores e roteiristas pretos, os desenvolvedores visitaram a Serra da Barriga, em Alagoas, onde ficava o Quilombo originalmente.
O maior refúgio de escravizados já registrado no Brasil, que sobreviveu por cerca de cem anos, foi reconstruído pela desenvolvedora brasileira Salve Games, que integra o ecossistema criativo PretaHub, em um novo mapa de Fortnite.
O Fortnite é um dos jogos on-line mais populares do mundo, e o novo mapa se chama "Zumbi dos Palmares". O ambiente digital retrata fielmente o quilombo e a história de seu líder e maior herói.
Com previsão de lançamento para fevereiro de 2024, o mapa, que faz parte do chamado "Modo Criativo" do jogo, permite que os jogadores explorem toda a região do Quilombo dos Palmares com a intenção de protegê-lo de invasores.
Em paralelo ao modo principal do Fortnite, que pressupõe a sobrevivência de somente um jogador ao final, nesta versão, o intuito é preservar, em grupo, o território que abrigava escravizados que conseguiam escapar das senzalas e seus senhores.
'Divertido e criativo'
O sócio da Salve Games, Cristiano Tostes, participou da viagem e classifica que o conhecimento sobre este período, quando abordado dentro de um jogo, pode despertar nos jogadores o interesse pelos nossos heróis nacionais e pela História, especialmente por estar sendo contada sob uma perspectiva decolonial:
— Pisar em Palmares foi edificante. É chocante que este ponto de resistência tão grande da nossa história ainda seja tão pouco falado. Mesmo quem conhece a história, quando chega lá se assusta com o tamanho, com a organização e com o quanto de luta aconteceu. Estamos acostumados com jogos que trabalhem narrativas estrangeiras, de guerras mundiais ou vikings, temos pouco sobre as batalhas que fazem parte da nossa história e, por isso, tentamos construir um jogo que fosse não apenas divertido, mas também educativo — conta Tostes.
Equipe e narrativa afrocentrada
Apesar de existirem centenas de mapas no Fortnite, abordando diversas temáticas e propondo vários tipos de minijogos dentro da plataforma, ainda são poucos os que abordam a realidade brasileira. O Modo Criativo permite que jogadores e empresas desenvolvedoras criem, através da Unreal Editor for Fortnite (UEFN), aplicação própria do Fornite, mapas e publicação de jogos.
Existem mapas de desafios de sobrevivência, esconde-esconde, polícia e ladrão e "escapes" de terror, por exemplo.
No caso de 'Zumbi dos Palmares', além de uma equipe totalmente formada por pessoas pretas e de periferia, a narrativa foi construída a partir do conceito de comunicação ancestral, proposta do Bioma, que valoriza conhecimentos e propõe olhar mais aprofundado sobre a perspectiva da história que valoriza narrativas muitas vezes invisibilizadas.
Juliana Gonçalves, gestora do Bioma, projeto do Pretahub responsável pelo investimento no jogo, classifica que um dos principais intuitos do jogo é a criação de imagens e histórias positivas sobre a história da resistência de pessoas pretas ao longo da história.
— Representatividade ainda é algo muito importante. Temos muito poucos exemplos positivos sobre nós mesmos no ensino regular e nos grandes meios de comunicação, como jogos e filmes. Quanto mais conseguirmos disseminar que nossos antepassados não eram agentes passivos na história, mas, guerreiros, que lutaram e dedicaram toda sua vida pela liberdade que temos hoje, maior será o nosso ganho — afirma Juliana.
Além da diversão, o intuito dos desenvolvedores é utilizar o jogo sob o viés educativo. Nesta quinta-feira, uma cartilha com dicas para educadores usarem o game dentro das escolas foi divulgada, trazendo informações sobre a história do quilombo e de Zumbi.
Zumbi nas escolas
— Nossa intenção é que os professores, em sala com os estudantes, possam entrar on-line com os alunos para explorar o mapa, enquanto contam a história e explicam sobre a organização do quilombo. As crianças hoje têm experiências com games de forma muito orgânica, aprendendo com muita facilidade na internet. Por isso, a importância de trazer informação de qualidade, contextualizada para a realidade brasileira — diz Juliana.
Maioria dos jogadores do Brasil são negros
Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB), levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos no país, negros e mulheres são maioria entre gamers brasileiros. Os negros são 54,1%, quando somados aqueles que afirmam ser pretos (12,7%) ou pardos (41,4%). Além disso, 82,1% consideram que jogar eletrônicos é uma das suas principais formas de diversão.
Apesar do cuidadoso trabalho e do perfil da maioria dos jogadores, um jogo nestes moldes ainda é muito raro no Brasil, existindo dificuldade, inclusive, na criação de personagens e narrativas mais diversas por meio de plataformas especializadas nisso. O diretor da Salve Games, Alexandre de Maio, conta que, até pouco tempo atrás, os sistemas de software de desenvolvimento não tinham modelos de pessoas negras.
— Quando comecei a desenvolver games, não existia variedade de pessoas pretas nos sistemas que utilizávamos, há pouquíssimo tempo isso vem mudando. O mundo dos games ainda tem muito o que evoluir, porque não é possível que a maior indústria de entretenimento atualmente não tenha preocupação com representatividade e igualdade — comenta De Maio.
Fonte: O GLOBO
da redação FM Alô Rondônia