PCC já arquitetou planos milionários para tirar o líder máximo da facção da cadeia, mas todos foram frustrados até agora
Marcola, quando foi intimado a prestar esclarecimentos sobre o assassinato de um juiz, em 2005
JORGE SANTOS/ESTADÃO CONTEÚDO - 07.11.2005Aos 55 anos, Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, apontado como principal líder do PCC (Primeiro Comando da Capital), dá trabalho para a polícia desde quando foi preso pela primeira vez, em 1986.
A organização criminosa já arquitetou planos milionários para resgatá-lo, mas, até o momento, todos foram frustrados pelos agentes de segurança pública.
O sistema judiciário brasileiro precisou se antecipar às tentativas de fuga, já que um criminoso condenado a mais de 300 anos de prisão certamente pensaria no assunto.
Por causa disso, ligações foram grampeadas e agentes ficaram de tocaia para conseguir "traduzir" códigos e declarações dos integrantes da facção.
Em entrevista ao R7, Ivana David, desembargadora do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) que acompanha o PCC desde a sua fundação e que decretou uma das primeiras prisões de Marcola, afirma que as "tentativas de fuga são diárias".
Conversas de Marcola com a mulher e com o advogado foram interceptadas pela polícia
REPRODUÇÃO TV"É uma guerra de gato e rato. Eu, como juíza, não entendo que preso tenha direito a fuga, mas há quem entenda, tanto que o sistema de segurança é justamente feito com esse olhar de se antecipar ao plano de fuga. As estratégias para impedir esses planos são elaboradas principalmente com o uso da tecnologia", explica a especialista, que também integra o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Segundo Ivana, se o sistema de Justiça não se antecipa para abortar esse tipo de "resgate", "pode acontecer uma verdadeira guerra no momento em que a polícia tentar intervir".
O nome do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, integrante do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPSP (Ministério Público de São Paulo), estava na lista de autoridades que o PCC planejava matar para resgatar seu líder.
Ele foi o responsável por pedir a transferência de Marcola em 2019 do presídio de Rondônia para Brasília, após descobrir um novo plano de fuga.
Hoje, Gakiya vive escoltado. "Ninguém quer ter a vida que eu tenho, precisar ficar cercado de policiais 24 horas por dia. Não poder mais sair de férias com a família, nem dentro do Brasil, nem na América do Sul. É uma vida muito limitada", diz.
O promotor conta que há uma disputa interna pelo cargo de Marcola, apesar de ele ainda ser considerado o líder supremo da facção. "O Marcola está gradativamente perdendo o poder porque ele está afastado e isolado, então outros pretendem atingir esse posto."
Questionada sobre o que aconteceria caso Marcola fugisse, Ivana afirma que, com o respeito que ele tem dentro do grupo, logo retomaria seu cargo. Mas ressalta que isso é "praticamente impossível".
A especialista afirma que, mesmo com ele preso, os criminosos que colocou em cargos de confiança conseguem dar sequência a parte de seus planos.
"A gente vê o PCC com o garimpo no Norte, lavando dinheiro em empresas públicas, traficando armas e drogas, mesmo com o Marcola fora", completa.
Em 2014, o plano do grupo criminoso era usar um helicóptero camuflado para tirar o líder do PCC da penitenciária de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde estava preso na época.
Quatro anos depois, em 2018, o MPSP (Ministério Público de São Paulo) e a Polícia Civil descobriram que a facção tinha "investido" R$ 100 milhões para a contratação de mercenários e na compra de armas, granadas e aeronaves a fim conseguir tirar Marcola da cadeia. Mas o plano também foi frustrado.
Marcola foi condenado a 342 anos de prisão
FOTO: REPRODUÇÃO/ RECORD TVA tentativa mais recente de que se tem notícia ocorreu em 2019, quando o líder do PCC foi levado à penitenciária de Porto Velho, em Rondônia, e, um mês depois, transferido para Brasília, no Distrito Federal, para uma penitenciária de segurança máxima, onde cumpre pena atualmente.
Essa transferência ocorreu após uma investigação mostrar que o objetivo da facção criminosa era invadir o presídio com cem homens armados, sequestrar autoridades e incitar rebeliões em cadeias federais. Mais um plano mirabolante frustrado.
Marcola, Colorido e mais 4: veja chefes que o PCC pretendia resgatar de presídios federais
A facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) pretendia resgatar seis de suas lideranças de presídios federais, segundo investigação da PF (Polícia Federal) que culminou em operação na quarta-feira (10) com a prisão de 11 suspeitos de integrar a organização criminosa
O plano ambicioso e que envolvia até o sequestro de autoridades previa o resgate de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe da facção e condenado a pena de 330 anos de prisão por diversos crimes. Marcola foi transferido do Distrito Federal para uma penitenciária de segurança máxima em Porto Velho (RO), em março deste ano
Além do resgate de seu principal chefe, o grupo queria também libertar o número 2 na hierarquia da facção, Valdeci Alves dos Santos, conhecido como Colorido. Ele foi preso em abril ao tentar apresentar uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação) falsa, em uma estrada em Pernambuco. O criminoso era procurado desde agosto de 2014, quando foi beneficiado por uma saída temporária
Outro nome relevante na alta hierarquia da facção é o de Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal. Ele foi condenado por matar em 2003 o então juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antônio José Machado Dias
Cláudio Barbará da Silva, conhecido como Barbará, é outro criminoso que o grupo pretendia libertar. Além dele, estavam na lista Edmar dos Santos (conhecido como I30) e Esdras Augusto do Nascimento Júnior. A polícia investiga como os presidiários estariam se comunicando com os supostos integrantes presos nesta quarta. A PF sustenta que advogados passavam informações durante as visitas, ainda que as conversas fossem monitoradas e gravadas. Eles usariam código e abordariam assuntos sem relação com as condenações dos presos, no intuito de comunicar as mensagens enviadas pelos membros da facção que estão soltos. O caso segue sendo investigado