Com suspeita de facilitação, fuga inédita de presos do sistema federal vira primeira crise de Lewandowski na Justiça

Com suspeita de facilitação, fuga inédita de presos do sistema federal vira primeira crise de Lewandowski na Justiça

 

          Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento teriam escapado por uma abertura no teto das celas; PF apura circunstâncias do caso


Porto Velho, RO - A fuga de dois presos da Penitenciária de Segurança Máxima de Mossoró (RN) na madrugada de quarta-feira, uma falha inédita no sistema de cinco presídios que o governo federal administra, tornou-se a primeira crise da gestão do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento teriam escapado por uma abertura no teto das celas e a Polícia Federal apura se houve facilitação par a a fuga.

Os dois teriam escapado por volta das 3h, mas os policiais penais só perceberam a ausência dos presos duas horas depois. O presídio passava por uma reforma na divisão do pátio de banho de sol, e a PF apura se algum dos equipamentos da obra foi usado.

Imagens analisadas

A principal suspeita levantada até agora é de que houve facilitação para que os dois fugissem. A PF analisa as imagens das câmeras de vigilância, que ficam armazenadas numa sala de controle da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), em Brasília.

Rogério e Deibson estavam no presídio há quatro meses. Os dois são ligados à facção Comando Vermelho, que tem um de seus principais líderes também preso em Mossoró: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Ele foi transferido para a unidade em janeiro.

O presídio de Mossoró — Foto: Editoria de Arte

Os fugitivos foram levados para a penitenciária em 27 de setembro do ano passado, por terem, em julho, participado de uma rebelião no presídio estadual de segurança máxima Antônio Amaro Alves, no Acre, em que cinco detentos foram executados. Três deles foram decapitados.

Deibson responde a 34 processos no Acre, por crimes como formação de quadrilha, tráfico de drogas e roubo. Rogério responde a mais de 50 processos por homicídio qualificado, roubo e violência doméstica, entre outros delitos.

Deibson estava preso desde agosto de 2015 e já havia passado pelo presídio federal de Catanduva (PR). A Justiça do Acre o definiu como um criminoso de “alta periculosidade”. Rogério, conhecido como Querubim, Chapa ou Cabeça de Martelo, tem uma suástica tatuada em uma das mãos e é considerado “extremamente frio”.

Sem gol e sem cozinha

Diferentemente dos presídios estaduais, as unidades federais têm um maior controle do uso de objetos e do cotidiano dos presos. Elas não possuem aparelhos de academia ou traves de gol nem cozinhas. As refeições são produzidas fora do presídio. As áreas de banho de sol são cobertas por uma tela de aço para impedir o acesso de helicópteros e drones.

Os presídios de segurança máxima federais — Foto: Editoria de Arte

Cada preso recebe uma caneta desmontada sem ponta. A lâmina de barbear é fornecida, mas precisa ser devolvida em seguida. As celas são revistadas todos os dias na hora em que os detentos saem para o banho de sol — assim como os presos.

Eles têm o direito de manter na cela livros e fotos de parentes, mas não podem fumar nem usar nada que envolva fogo. As celas têm chuveiros, mas a água para o banho dura cinco minutos.

As unidades têm a mesma estrutura entre si. A única diferença é na penitenciária federal de Brasília, que possui uma muralha de concreto de 11 metros à prova de balas calibre .50, capazes de derrubar helicópteros.

O Sistema Penitenciário Federal (SPF) foi criado no segundo mandato do governo Lula, em 2006, como uma resposta do Estado a uma série de rebeliões ocorridas naquele ano. Presos filiados a uma facção paulista organizaram um levante em 74 penitenciárias do Estado e ordenaram ataques a policiais, agentes penitenciários e delegacias.

Inaugurado em 2009, o presídio federal de Mossoró é o único que fica no Nordeste. A penitenciária já abrigou o traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, atualmente na Penitenciária Federal de Campo Grande, e Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados de matarem a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

Outro criminoso que esteve na unidade foi Orlando Curicica. O ex-policial militar, que seria chefe de uma milícia na Zona Oeste, foi transferido quando surgiram suspeitas de seu envolvimento também na morte da vereadora Marielle e de Anderson Gomes, hipótese que depois foi descartada.

O novo chefe da Senappen, André Garcia, desembarcou na quarta-feira à noite no estado para acompanhar as buscas. A Polícia Rodoviária Federal e as polícias do Rio Grande do Norte também ajudam na procura. As polícias militares da Paraíba e do Ceará foram acionadas para reforçar a segurança nas divisas.

Lewandowski ordenou a mobilização das Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado, que reúnem equipes da PF e das polícias estaduais, na busca. O Ministério da Justiça pediu a inclusão dos nomes dos dois no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras. Com isso, eles serão procurados também em outros países.

O presídio de Mossoró
  • A 277 quilômetros de Natal, foi inaugurado em 3 de julho de 2009, tem 12,3 mil m² e tem capacidade para 208 presos. O presídio reproduz o modelo das Supermax, as unidades de segurança máxima norte-americanas.
  • A unidade possui cerca de 200 câmeras de vídeo para vigiar os internos.
  • Além disso, há 12 celas de isolamento para presos punidos por atos de indisciplina.
  • As celas, com 7 m², são individuais e divididas em quatro pavilhões. Dentro delas, há um dormitório, banheiro, pia, chuveiro, uma mesa e um assento.
  • A comida é entregue por uma portinhola e a bandeja é inspecionada.
  • As mão dos detentos devem estar sempre algemadas no percurso entre a cela e o pátio para o banho de sol.
  • Dentro do presídio, há biblioteca, unidade básica de saúde e parlatórios para recebimento de visitas e de advogados, além de local para participação de audiências judiciais.
Outros presos em Mossoró
  • O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar foi transferido para o presídio em janeiro. Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que atualmente está Penitenciária Federal de Campo Grande, passou anos na unidade.
  • Acusados de matarem a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz também ficaram no presídio.
  • Outro preso que esteve na unidade foi Orlando Curicica, ex-PM que seria chefe de uma milícia na Zona Oeste e foi para Mossoró quando surgiram suspeitas de seu envolvimento na morte de Marielle e de Anderson Gomes.
Quem são os fugitivos
  • Deilson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça haviam sido transferidos para Mossoró em 27 de setembro, depois de terem participado de uma rebelião no presídio Antônio Amaro, no Acre, em julho de 2023, em que cinco detentos foram mortos, três deles, decapitados.
  • Com 33 anos, Deilson foi condenado por organização criminosa, tráfico de drogas e roubo e responde a mais de 30 processos.
  • Com 35 anos, Rogério foi condenado por crimes como homicídio e roubo e responde a mais de 50 processos.
O que falta saber
  • Houve facilitação para a fuga?
  • Como foi a fuga de Deilson e Rogério?
  • As reformas na penitenciária podem ter favorecido a fuga?

Fonte: O GLOBO

da redação FM Alô Rondônia
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