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Os indígenas enfrentam grave crise humanitária, com aumento da mortalidade em 2023
Durante o ano de 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) responsável pelo atendimento aos indígenas da etnia Yanomami, em Roraima, descartou centenas de milhares de medicamentos. Entre os remédios desperdiçados, destaca-se pelo menos um lote com 1.690 unidades de Paxlovid, um antiviral utilizado no combate à covid-19, cujo preço de mercado seria quase R$ 250 mil.
Foram descartados também outros insumos, como testes rápidos de covid-19 e de HIV.
O Ministério da Saúde afirmou que herdou estoques de medicamentos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que esses estoques estavam sem tempo hábil para distribuição e uso. Diante disso, a pasta está buscando reestruturar as políticas de saúde indígena, visando evitar desperdícios e garantir a distribuição de acordo com a necessidade.
Líderes indígenas escutados pelo Estadão relatam que a Terra Indígena Yanomami sofreu com a falta de medicamentos durante o período em que esses remédios agora descartados ainda estavam válidos, ou seja, ao longo dos anos 2021 e 2022.
O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-YY), uma subdivisão do SUS, foi responsável pelo descarte dos medicamentos. Essas informações foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e incluem dois conjuntos de tabelas, sendo que o maior deles registra o descarte de mais de 257 mil itens.
A ivermectina (até 48.228 comprimidos) e a cloroquina (até 12.580) foram as drogas mais descartadas.
Os Yanomami enfrentam uma grave crise humanitária e dados do Ministério da Saúde indicam um aumento da mortalidade em 2023.