Pesquisa: estigma de “invasor” assombra Boulos, e Nunes tem segurança como ponto fraco

Pesquisa: estigma de “invasor” assombra Boulos, e Nunes tem segurança como ponto fraco

 

          Pré-candidato do PSOL é visto como radical, enquanto prefeito é criticado pela cracolândia; pesquisa qualitativa foi feita pelo Instituto Travessia a pedido do GLOBO


Porto Velho, Rondônia - Liderança do movimento sem-teto e pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos ainda é associado ao estigma de “invasor de imóveis” e enfrenta uma considerável rejeição entre o eleitorado indeciso, revela pesquisa qualitativa realizada pelo Instituto Travessia a pedido do GLOBO. Seu principal concorrente, o prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB), tem os temas da segurança pública e da deterioração do centro da cidade como suas principais fragilidades.

A pesquisa qualitativa foi conduzida pelo Instituto Travessia na última terça-feira (26). O grupo focal era composto por oito eleitores, quatro homens e quatro mulheres, que ainda não decidiram seu voto para prefeito de São Paulo. Os participantes tinham entre 25 e 65 anos e pertenciam às classes sociais B e C. Em razão do sigilo, os nomes serão preservados.

A presença da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) na chapa de Boulos se mostra o principal trunfo da campanha do líder sem-teto. Marta deixou a secretaria de Relações Internacionais da gestão Nunes no início do ano para compor a chapa do psolista, numa articulação liderada pelo presidente Lula. “Se o cérebro dele for a Marta, eu voto”, disse L., 27 anos, motorista de aplicativo e morador de Pirituba, bairro da Zona Leste de São Paulo. “Votaria no Boulos pela Marta. É só ver o que ela fez”, disse I., de 49 anos, do bairro Água Funda.

Dos oitos participantes, apenas um, identificado com o bolsonarismo, não simpatiza com Marta. Marcas da gestão da ex-prefeita, como o Bilhete Único e os Centros Educacionais Unificados (CEUs), ainda estão frescos na memória da população. Já Boulos não tem a mesma adesão. Dois consideram impossível um voto no psolista, enquanto os outros se preocupam com a ligação dele com o movimento sem-teto. “Tenho medo dessa parte da invasão”, confessou o engenheiro T., de 39 anos, que vive em São Mateus, na Zona Leste.

Em relação a Lula, principal cabo eleitoral de Boulos, os eleitores reconhecem a redução no preço das carnes, porém, expressam preocupação com a estagnação do governo e reclamam do encarecimento dos legumes— mesmo os que votaram no petista em 2022.

— Boulos tem rejeição considerável, e a pecha de invasor e o perfil muito à esquerda assusta parte dos entrevistados. Marta rompe a bolha da esquerda entre os mais pobres pelo perfil assistencialista visto como positivo, atraindo para Boulos inclusive eleitores de viés à direita—analisa Renato Dorgan, cientista político, especialista em pesquisas qualitativas e sócio do Instituto Travessia.

Nunes, o centrista

Nunes já não é mais um estranho para os eleitores, e seu rosto é agora familiar para todos os participantes da pesquisa, que enxergam ele como um clássico político de centro. Algumas das iniciativas trabalhadas pela sua pré-campanha começam a ser reconhecidas pelo eleitorado, como a criação de faixa exclusiva para motos, vista como um "acerto", e a tarifa gratuita nos ônibus aos domingos.

Embora ainda persistam desafios, como as filas na área da saúde, os eleitores mencionam melhorias nesse setor. E., de 30 anos, destaca o programa Mãe Paulistana, que oferece atendimento médico e apoio integral às gestantes da cidade, desde o pré-natal até o segundo ano de vida do bebê. Esta iniciativa foi lançada em 2011, através de um projeto de lei proposto pelo então vereador Carlos Bezerra (atualmente secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de Nunes), ampliada durante a gestão de Bruno Covas em 2019, e continua sendo implementada na administração atual.

— Nunes tem baixa rejeição e sua gestão tem melhoras pontuais na saúde e transporte. Porém, é afetada pela segurança pública e degradação do centro. A falta de resolução na cracolândia começa a ter ares conspiratórios de especulação imobiliária e há eleitores que citam a influência do PCC na região e o medo de autoridades de enfrentar o crime organizado—afirma Dorgan, que conduziu a pesquisa qualitativa.

Há, porém, percepção por parte de alguns integrantes do grupo de que houve aumento do efetivo policial nas ruas.

O apoio de Bolsonaro não é amplamente conhecido pelo grupo e teve um impacto decisivo na mudança de opinião de uma eleitora indecisa. Após tomar conhecimento da aliança com o ex-presidente, ela afirmou que não votaria de forma alguma no prefeito.

A pré-candidata do PSB, a deputada federal Tabata Amaral, é reconhecida principalmente pelas pessoas de maior escolaridade do grupo. No entanto, a pesquisa revela uma confusão em relação ao seu posicionamento político, com algumas pessoas a considerando de esquerda e outras de direita. A maioria, no entanto, desconhece quem é a deputada. "Quero ver o que ela tem a oferecer", afirma I., 49 anos.

Marina Helena, do Novo, conquista a simpatia de uma eleitora associada a Bolsonaro, enquanto Kim Kataguiri (União Brasil) não é levado a sério pelo grupo. Quando questionados sobre quais candidatos estão em dúvida, a maioria oscila entre Boulos e Nunes.

— A maior parte dos indecisos do grupo leva a crer que se desenha uma polarização entre Nunes e Boulos por falta de uma opção melhor à direita, principalmente— diz Dorgan.


Fonte: O GLOBO

da redação FM Alô Rondônia
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