Entrevista: Investigação da Abin é perseguição e não cabe falar em golpe, diz pré-candidato do PL à prefeitura do Rio

Entrevista: Investigação da Abin é perseguição e não cabe falar em golpe, diz pré-candidato do PL à prefeitura do Rio

 

            Alexandre Ramagem se defende de acusações de espionagem ilegal, diz ter ‘essência de direita’ que compensa falta de experiência política e admite estratégia para colar atual prefeito no PT e na esquerda


Porto Velho, Rondônia - A Abin monitorou ilegalmente diversas pessoas como jornalistas e adversários de Jair Bolsonaro durante a sua gestão, segundo a Polícia Federal. Como responde às acusações?

Essa investigação faz parte de todo o processo de perseguição ao governo Bolsonaro e a quem estava em volta dele. Colocaram meu nome, mas até hoje não fui ouvido e não há processo criminal contra mim. A grande coincidência é que começaram essas imputações logo após eu ter anunciado a minha pré-campanha a prefeito do Rio de Janeiro.

Há mensagens da assessora de Carlos Bolsonaro para o senhor pedindo informações de inquéritos sobre Bolsonaro e os três filhos. Não é um indício de uso político da Abin pelo o ex-presidente?

A assessora do Carlos perguntava se eu conseguiria ter notícia de um procedimento que nem vi, nem tem resposta minha sobre aquilo. Se tivesse visto, muito provavelmente não daria andamento. Aliás, nem estava mais na Abin. Utilizaram esse pedido para fazer busca e apreensão de uma assessora minha. Ignoram que fui eu que botei para apurar a utilização do First Mile na minha administração. 

A Polícia Federal está desvirtuada, virou um instrumento de trabalho muito mais de governo que de Estado. No passado, decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) me impediu de assumir o comando da PF alegando que eu tinha intimidade com o presidente Bolsonaro. Já o atual diretor-geral da PF também foi segurança do Lula e não teve problema algum na indicação.

A mesma PF também apura a tentativa de golpe feita no fim do governo Bolsonaro a partir de minutas encontradas, conversas extraídas de celulares e depoimentos de militares de alta patente. Embora o senhor não esteja envolvido nessas apurações, reconhece que seu grupo político articulou a derrubada do Estado democrático de direito no fim de 2022?

O que se fala em minuta de golpe é um documento todo preparado com fundamento a dispositivos constitucionais, que seria apresentado ao Congresso Nacional para deliberar. Então, se há previsão constitucional do que ele estava pretendendo fazer, ainda mais numa reunião aberta e tudo mais, os delitos que estão tentando imputar não cabem.

Defende então que o PL apoie para as presidências da Câmara e do Senado nomes que se comprometam com uma anistia a Bolsonaro no futuro?

Sim. Eu mesmo tenho um projeto na CCJ que tem sido falado como o mais técnico para a anistia. Demonstro que houve uma desvirtuação da interpretação das leis.

Bolsonaro tem dito a aliados que o senhor tem um perfil meio durão e sem traquejo político. Como fazer para driblar essa leitura do seu principal padrinho?

Ele coloca isso até como algo positivo, uma pessoa que não veio da política tradicional. Faz até comparação com o ex-ministro e governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Uma pessoa sem experiência política anterior, mas com a essência da direita e de fazer uma gestão de austeridade pública.

O senhor está negociando com Paulo Vasconcelos, marqueteiro que fez a campanha de Cláudio Castro há dois anos. Carlos Bolsonaro, portanto, estará fora da elaboração da sua estratégia eleitoral?

Carlos é um grande amigo, aprendo muito com ele. A gente debate muito, mas nunca foi colocado que ele seria um coordenador de campanha ou que tocará as redes sociais. O contato que eu sempre tenho com o Carlos é muito mais de aconselhamento.

Ainda não há o endosso de nenhum partido robusto à sua candidatura. É sinal de fraqueza política e eleitoral?

Nós temos conversado com diversos partidos. Ainda há uma decisão a ser feita, se vamos sair com uma chapa puro sangue ou se vamos coligar. Estamos conversando com União Brasil, Novo, MDB.

Um dos grandes pilares do bolsonarismo está no apoio conquistado no segmento evangélico. No entanto, Eduardo Paes parece ter saído na sua frente neste público ao fechar aliança com o Republicanos, ligado à igreja Universal, e outros líderes. O que está acontecendo?

Acredito que os evangélicos ainda não têm um total conhecimento da nossa candidatura, e que depois que nos tornarmos mais conhecidos a escolha do público naturalmente virá para quem defende efetivamente os seus valores. Eduardo está focado não só na reeleição como em sair para o governo do estado daqui a dois anos. Para isso, está fazendo todo tipo de concentração de apoio, unindo de Eduardo Cunha a Marcelo Crivella, além do próprio PT.

A estratégia de ligar Paes ao PT e à esquerda não é difícil diante da trajetória dele de nunca ter se filiado a partidos deste campo?

Acredito que é o contrário. Antes ele podia até ter o voto da centro-direita, quando as pessoas não identificavam o que era na realidade direita e esquerda. Mas já faz muito tempo que ele comunga das mesmas estruturas da esquerda. 

Então hoje ficou muito claro que ele está vinculado à esquerda. É natural a dianteira nas pesquisas. Ele é um político que está pretendendo um quarto mandato. Tem uma vantagem esse conhecimento, mas também acredito que Paes tenha um teto. Estou muito sólido quando sou conhecido, com uma avenida muito grande para crescer.

Se eleito, pretende dialogar com Lula ou transformar o Rio numa fortaleza da oposição?

Se tiver proposta comum se distanciando da questão ideológica e dos equívocos do governo Lula … Porque nós não estamos vendo nenhuma ação positiva do Planalto nesses dois anos de mandato. Tenho votado quase 100% em oposição ao governo, e não por uma uma birra ou contrariedade ideológica, mas porque tudo que está sendo colocado é de forma equivocada. 

Nós teremos, com toda a certeza, várias políticas de infraestrutura e de organização que podem ter parcerias, inclusive de empréstimos e financiamentos que podem ser da União. Se for um projeto que trabalhe pelo melhor do carioca, não há problema em fazer uma parceria em prol do interesse público.

O senhor criticou o investimento de R$ 10 milhões da prefeitura no show da Madonna, mas seu aliado Cláudio Castro investiu o mesmo valor pelo estado. Não é uma contradição criticar só um?

É uma verba que o ente público não precisava dispensar, o evento já se realizaria. Quando vi que o atual prefeito apareceu tanto quanto o show e mais do que o banco que estava patrocinando, então acabei entrando com uma representação no Ministério Público. 

Acredito que o governo do estado também não precisaria ter despendido essa quantia em questão pública. Mas eu não vi o Cláudio Castro aparecendo como o prefeito.

Apesar de as polícias serem estaduais, a segurança é o principal mote da campanha?

Sim, é a principal demanda do cidadão. A ordem pública foi abandonada no Rio de Janeiro. Notamos o abandono, a sujeira, a violência, além da fuga do comércio e da indústria.

Vai defender a clássica bandeira da direita carioca de armar a Guarda Municipal?

Com toda a certeza. Em todo o Brasil, só quatro capitais não possuem a Guarda armada. Não é necessário que todo o efetivo seja, mas acredito que 80% têm que estar numa cidade conhecida mundialmente como violenta. E não é apenas comprar uma arma e entregar para o guarda. Tem que ter um preparo, verificar as necessidades, haver um protocolo de treinamento e capacitação, inclusive psicológica.

Além da segurança, qual é seu diagnóstico de outras áreas prioritárias, como a Saúde?

Hoje vemos uma atenção sem equipes estruturadas e má alocação de pessoal, que gera um gargalo para média e alta complexidade. Essa é a primeira questão que vamos abordar: como montar uma equipe com médicos, dentistas e enfermeiros já na atenção primária, para organizar o preventivo. Também vemos falta de medicamentos e dificuldade para agendar cirurgias.

Depois da pandemia e a postura do ex-presidente contra as vacinas e debochando da doença em público, não fica difícil um bolsonarista convencer o eleitor que pode gerir bem a Saúde?

Acredito que possam ter tido algumas questões de comunicação, mas a forma como todos os setores dos ministérios trabalharam em conjunto foi boa. A aquisição de vacinas foi referência e o Ministério da Economia deu exemplo mundial na forma como auxiliou os trabalhadores formais e informais. O PT não teria conseguido lidar com a pandemia.

Série de entrevistas

O GLOBO iniciou na terça-feira série de entrevistas com pré-candidatos à prefeitura do Rio. Foram convidados, além do prefeito Eduardo Paes, os que tiveram seu nome lançado em evento partidário e cujas siglas têm as maiores bancadas na Câmara Municipal.


Fonte: O GLOBO

da redação FM Alô Rondônia
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