Mesmo sem chuva, nível dos rios no RS só vai normalizar no final de maio; entenda

Mesmo sem chuva, nível dos rios no RS só vai normalizar no final de maio; entenda

 

            Porto Velho, Rondônia - A situação de Porto Alegre e dos municípios da região metropolitana continua crítica e as águas do Guaíba não devem descer abaixo da cota de inundação antes de 10 dias. Até lá, as cidades continuarão alagadas. O rio ontem estava a 5,26 metros, baixou apenas 7 cm desde sábado e segue 2,26 metros acima da cota de inundação.


A água subiu depressa, mas escoa lentamente devido não apenas ao volume colossal, mas também porque o Guaíba deságua na Lagoa dos Patos, por uma estreita passagem, de cerca de dois quilômetros. E a Lagoa dos Patos também tem um escoamento lento, afetado por ventos e com uma saída apertada para o oceano.

Municípios do entorno da Lagoa dos Patos, como Pelotas e Rio Grande, estão em alerta máximo porque a onda de cheia do Rio Guaíba já começou a entrar. Lá, a inundação deve durar cerca de 20 dias, segundo estimativas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Serviço Geológico Brasileiro (SGB).

A inundação sem precedentes é resultado da chuva intensa e concentrada na semana passada, quando choveu o volume esperado para o outono inteiro em apenas quatro dias.

Num evento jamais visto, a água acumulada nas bacias dos Rios Taquari, Jacuí e Caí, onde choveu mais forte em 30 de outubro e 3 de maio, fez a vazão média do Guaíba passar de dois mil metros cúbicos por segundo para cerca de 25 mil metros cúbicos por segundo, estima Artur Matos, coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico Brasileiro (SGB).

Matos explica que o Taquari e o Jacuí, onde mais choveu, representam 85% do volume do Guaíba. O Caí, onde também houve chuva recorde, 6%. Isso significa que os rios que representam 91% do volume receberam um excesso brutal de água, despejado praticamente de uma vez.

— Temos cerca de dez vezes mais água escoando pela mesma passagem estreita. Por isso, a água desce lentamente e a situação não deve melhorar significativamente no Guaíba antes do sábado, dia 11, quando deve baixar para quatro metros. Ainda assim, um metro acima da cota de inundação. E isso se não voltar a chover forte nas bacias desses rios — frisa Matos.

Entenda por que Porto Alegre encheu — Foto: Editoria de Arte

As barragens das hidroelétricas foram submetidas a uma pressão histórica. Na Usina Hidroelétrica Dona Francisca, no Rio Jacuí, a vazão alcançou impensáveis 12.812 metros cúbicos por segundo em 30 de abril. Em maio, o esperado é 316 metros cúbicos por segundo. Foram 40 vezes acima do normal.

E essa é uma usina que tem dados. Porque em várias hidroelétricas os equipamentos que medem os rios foram arrancados pela enxurrada e os funcionários ficaram isolados e sem comunicação. Matos diz que o Jacuí pode ter chegado a 25 mil metros cúbicos por segundo.

Sem os equipamentos para coletar dados em campo, o SGB tem trabalhado com os resultados da modelagem numérica desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que há décadas monitora o Guaíba.

O rio está numa situação que os especialistas classificam como estável porque seu nível parou em 5,26 metros. No sábado, ele alcançou a máxima histórica de 5,33 m, 58 cm acima do recorde anterior, de 4,75 m, de 1941.

— Isso indica uma descida, mas ela é muito lenta e depende de não voltar a chover forte — frisa Matos.

Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações do Cemaden, diz que a situação começa a melhorar nas cabeceiras dos rios, porque choveu pouco no domingo e na segunda-feira. A chuva se deslocou para o sul, para o Uruguai. Deve haver uma trégua de três dias e voltar a chover a partir de quarta-feira à tarde, mas o volume previsto é bem menor do que o da semana passada.

— O problema é que vai chover sobre uma área inundada, muito vulnerável. A situação do Guaíba está terrível. O rio ficará uns quatro dias oscilando no patamar de 5 metros. Só depois disso começa a descer. Mas as previsões hidrológicas têm muita incerteza porque dependem das chuvas — enfatiza Seluchi.

Ele salienta que a situação que está piorando é a das cidades no entorno da Lagoa dos Patos porque toda a água que está no Guaíba vai para lá e causará inundação.

— Esperamos que os ventos nos próximos dias sejam de oeste, que não prejudicam o escoamento da Lagoa dos Patos. O pior dos mundos será soprar vento de leste forte, pois represará a água dentro da lagoa — explica o meteorologista.

No Rio Uruguai, a situação também deve piorar porque choveu nas cabeceiras.

— Há uma onda de cheia que está viajando e o rio deve transbordar nos próximos dias em cidades como Itaqui e Uruguaiana. Só que esperamos uma inundação bem menor, nada semelhante ao Guaíba — diz Seluchi.

A boa notícia, segundo ele, é que houve redução do risco de deslizamentos de terra no estado.

Fonte: O GLOBO

da redação FM Alô Rondônia
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