Eleição de Recife: hegemonia da família e oposição enfraquecida fortalecem João Campos

Eleição de Recife: hegemonia da família e oposição enfraquecida fortalecem João Campos

 

     Candidato à reeleição na capital pernambucana, prefeito larga como franco favorito unindo peso do sobrenome com roupagem moderna


Porto Velho, Rondônia - Na sexta-feira, Pernambuco se despediu de Magdalena Arraes, aos 95 anos. Viúva do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), era a mais velha representante de uma dinastia política que tem hoje seu bisneto, João Campos (PSB), como principal expoente, em uma nova roupagem. Aos 30, Campos larga como franco favorito para se reeleger prefeito de Recife neste ano: apareceu com 75% das intenções de voto em pesquisa Datafolha divulgada na semana passada.

A campanha mescla o peso da tradição com o investimento em comunicação digital — e se beneficia ainda da desorganização da oposição.

Filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014 quando concorria à presidência da República, o prefeito cultivou a imagem de “cara nova” em um estado já governado pelo pai e três vezes pelo bisavô — a primeira delas entre 1963 e 1964, quando Arraes foi deposto pelo golpe militar.

Para isso, adota a informalidade em publicações nas redes sociais, que vão desde “dancinhas” no TikTok até a decisão de descolorir o cabelo no carnaval deste ano. Nas redes, Campos também publica vídeos em profusão vistoriando (ou inaugurando) obras na capital pernambucana.

— Ele atua sem deixar espaços para críticas mais acirradas. Mesmo com problemas crônicos do Recife, que não deixaram de existir com Campos, pesa uma política eficiente— avalia o cientista político Ernani Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Hoje, enquanto Campos nada de braçada na capital, seus rivais patinam. A governadora Raquel Lyra (PSDB), sua principal adversária política, aparece com a gestão reprovada por 48% dos recifenses, segundo o Datafolha. De olho na reeleição, o prefeito conseguiu amarrar apoios desde a esquerda, com o PT, à direita com o União Brasil, sucessor dos antigos DEM e PFL, todos tradicionais rivais de gerações anteriores da família.

A oposição mais dura enfrentada por Campos ocorreu há quatro anos, e veio de dentro da família. Na primeira disputa pela prefeitura, travou um segundo turno acirrado contra a prima de segundo grau Marília Arraes. À época no PT, Marília, dez anos mais velha, ironizou a juventude do primo e disse que “prefeitura não é pirulito para estar dando de presente para um menino”.

Hoje, por outro lado, Campos tem o apoio da prima, em uma reconciliação mediada na corrida eleitoral de 2022 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem o prefeito de Recife se aproximou naquele ano.

Aposta do PSB

Assessores de Campos dizem que a virada do prefeito, antes alvo de desconfiança pela pouca idade, foi transformar a juventude num ativo. Com perfil workaholic, ele evitou que problemas da cidade manchassem sua imagem de gestor.

Segundo o Datafolha, 19% dos entrevistados apontam a saúde pública como o maior problema da capital pernambucana, seguida pela segurança pública — uma atribuição do governo do estado — com 18%. Saneamento básico, problema que também martelou gestões anteriores, é citado por 10%. Ainda assim, 69% consideram ótima ou boa a gestão de Campos, e apenas 6% a avaliam como ruim ou péssima.

Apesar da pouca idade, Campos já não era novato na campanha de 2020. Quatro anos antes, foi chefe de gabinete do ex-governador Paulo Câmara, sucessor do pai, “antes de se formar na faculdade”, como lembra Carvalho. Era o auge da hegemonia do PSB, que comandou simultaneamente a prefeitura da capital e o governo de Pernambuco entre 2014 e 2022.

A sequência foi quebrada com a derrota de Danilo Cabral (PSB) na última eleição estadual. Aliados e rivais já anteveem que a missão de retomar a cadeira de governador caberá a Campos em 2026.

Para o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que conviveu com as gerações de Miguel Arraes, Eduardo e João Campos, o prefeito de Recife agrega “leveza e alegria” a uma “sobriedade peculiar à sua linhagem”, além da habilidade de conciliar diferentes grupos.

— É uma grande aposta do partido para o futuro. Ele começou cedo, teve sucesso eleitoral e de administração, sem perder as características do PSB no estado, como o comprometimento com os mais pobres, e com uma política de alianças, capaz de construir frentes amplas. Algo que o bisavô e o pai faziam muito bem — explica Siqueira.

Recentemente, Campos mais que quadruplicou o número de seguidores no Instagram, passando de 500 mil no final de 2023 para 2,4 milhões. Nas redes, dissemina uma agenda oficial que privilegia o corpo a corpo nas ruas, em especial na periferia. Hoje, além de ser o nome mais conhecido entre os pré-candidatos à prefeitura de Recife, ele é o menos rejeitado pelo eleitorado, segundo o Datafolha.

* Estagiário sob a supervisão de Fernanda Freitas


Fonte: O GLOBO

da redação FM Alô Rondônia
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