Fiocruz Rondônia amplia monitoramento de hepatite Delta em comunidades ribeirinhas

Fiocruz Rondônia amplia monitoramento de hepatite Delta em comunidades ribeirinhas

DOENÇA SILENCIOSA


 Silenciosa, a hepatite Delta (HDV) vem preocupando pesquisadores da Fiocruz e autoridades da saúde, em comunidades ribeirinhas


Em mês dedicado à luta contra as hepatites virais, Fiocruz Rondônia destaca ações de rastreio e monitoramento da hepatite Delta. Na região Norte, estão concentrados mais de 70% dos casos. Com método de quantificação da carga viral de pacientes, desenvolvido em Rondônia, pesquisadores avançam no rastreamento da doença em comunidades ribeirinhas da Amazônia.

Silenciosa, a hepatite Delta (HDV) vem preocupando pesquisadores da Fiocruz e autoridades da saúde, em comunidades ribeirinhas localizadas na região Sul do Amazonas, para onde uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia e profissionais de Saúde de Lábrea-AM se deslocou no último mês de junho.

Às margens do rio Purus, a cidade de 45.448 habitantes – que fica a 407 km de Porto Velho-RO e a 850 km de Manaus-AM – tem aproximadamente 1.400 casos notificados da doença e apenas 140 pacientes em acompanhamento, de acordo com o Centro de Testagem Rápida e Aconselhamento (CTA), da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA-Lábrea).

Entre 2000 e 2022, foram diagnosticados no Brasil 4.393 casos de hepatite Delta. A maior incidência ocorreu na região Norte, com 73,1% dos casos, seguida das regiões Sudeste (11,1%), Sul (6,6%), Nordeste (5,9%) e Centro Oeste (3,3%). Em 2022, foram 108 novos diagnósticos, com 56 (51,9%) casos confirmados na região Norte e 23 (21,3%) na região Sudeste. Os dados estão disponíveis no último Boletim Epidemiológico sobre Hepatites Virais (2023) divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde e revelam a gravidade do problema de saúde pública que se junta a inúmeras demandas sanitárias que essas localidades de difícil acesso na Amazônia enfrentam diariamente.

Em Lábrea, a equipe de pesquisadores e profissionais de saúde percorreu as comunidades ribeirinhas de Várzea Grande e Acimã no rio Purus. Durante dois dias, foram realizados testes rápidos e exames laboratoriais, mas o foco principal da equipe foi o diagnóstico e rastreamento das hepatites virais, em especial a hepatite Delta, que é o tipo mais agressivo. O atendimento clínico de 40 pacientes que já haviam sido diagnosticados com a doença, em ações anteriores, foi realizado pela médica gastroenterologista e hepatologista Eugênia de Castro e Silva, do Ambulatório de Hepatites Virais de Porto Velho.

Moradores foram atendidos com testes rápidos e exames laboratoriais

Nesta ação de junho, foram atendidos 113 moradores nas duas comunidades, sendo que 16 foram diagnosticados com hepatite D. As amostras são levadas para a Fiocruz Rondônia onde são processadas e avaliadas e os indivíduos com diagnóstico positivo são assistidos pela equipe de saúde de Lábrea e o Ambulatório de Hepatites Virais, que auxilia na conduta clínica dos pacientes.

Monitoramento de pacientes ampliado

A coordenadora da equipe, Deusilene Vieira, chefe do Laboratório de Virologia Molecular explica que esse trabalho de rastreio e monitoramento das hepatites virais já vinha sendo realizado em Rondônia, mas foi ampliado para as comunidades ribeirinhas do Sul do Amazonas em dezembro de 2023, após a chegada ao hospital Cemetron, em Porto Velho, de dois irmãos vindos de Lábrea, com 19 e 23 anos, com suspeita de superinfecção para o vírus da hepatite Delta. Na ocasião, a Fiocruz Rondônia foi convidada a fazer os testes de carga viral nos pacientes, por meio do método molecular para quantificação do vírus HDV, desenvolvido pelo Laboratório de Virologia Molecular e, atualmente, já aplicado no diagnóstico e monitoramento de pacientes nos estados de Rondônia e Acre.

A chegada desses dois pacientes acendeu um alerta para que nós investigássemos as circunstâncias de transmissão e os possíveis fatores envolvidos na propagação da doença, considerando o contexto familiar em que esses casos surgiram e o fato de Lábrea ser uma região endêmica para a hepatite Delta. Então, nós decidimos ampliar o rastreio para outras localidades”,revelou Deusilene Vieira.

A pesquisadora destaca que o método molecular preenche uma lacuna significativa na descoberta de novos casos de hepatite Delta na região amazônica e, consequentemente, no rastreio e acompanhamento dos pacientes, uma vez que a rede pública dispõe o teste de carga viral apenas para hepatite B, e os exames sorológicos disponíveis no SUS demonstram somente se o indivíduo teve contato com o vírus, sem informar a atual carga viral e se o vírus está se replicando no organismo, o que é extremamente importante para a definição da conduta clínica adequada ao paciente.

Desafios da saúde em comunidades ribeirinhas

Em meio aos desafios da saúde, fatores logísticos e a distância entre as comunidades ribeirinhas e os centros de referência agravam ainda mais o acesso da população ao atendimento especializado e ao Sistema Único de Saúde (SUS).  Para Keyth Ellen, gestora do Centro de Testagem Rápida e Aconselhamento e coordenadora dos programas de HIV, Sífilis e hepatites virais em Lábrea-AM, a maior preocupação, atualmente, é oferecer um acompanhamento de qualidade aos portadores crônicos de hepatites.

De Lábrea a Manaus, são 30 horas de viagem pela BR 319, de barco este percurso pode levar até 5 dias. O município não conta com médico infectologista, nem estrutura laboratorial adequada à realização de exames mais específicos, o que acaba dificultando o monitoramento dos casos de hepatite Delta. Mas, “por meio dessa parceria com a Fiocruz Rondônia, nós conseguimos ter acesso aos pacientes, saber a carga viral dos portadores crônicos e oferecer um acompanhamento mais humanizado, conforme a necessidade de cada caso”, enfatizou Keyth. Ela também argumenta que espera poder ver, em breve, a tecnologia desenvolvida pela Fiocruz Rondônia incorporada ao SUS, podendo atender as necessidades de outras comunidades. 

Parte dos trabalhos realizados em Lábrea, pela equipe de pesquisadores da Fiocruz Rondônia, esteve voltada à capacitação de profissionais da saúde. Na última ação, médicos, enfermeiros e técnicos participaram de uma capacitação sobre as hepatites virais, ministrada pelas pesquisadoras Eugênia de Castro e Deusilene Vieira. Na capacitação, os profissionais puderam esclarecer dúvidas e compartilhar experiências e desafios diários na rotina do SUS.

Por José Gadelha - RD

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