A Reserva Particular do Sesc, no Mato Grosso, executou sua primeira experiência de queima prescrita, que serve como barreira para as linhas de fogo
Porto Velho, Rondônia - As cenas dos incêndios no Pantanal chocam. Há mais de 20 dias, o bioma queima em um período de seca severa que, em outros anos, ainda não estaria acontecendo. Corumbá, município do Mato Grosso do Sul, concentra 66% dos incêndios que assolam o Pantanal no primeiro semestre no Brasil, segundo o Inpe.
A 40 quilômetros dali, já na parte mato-grossense do Pantanal, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal fez, em 14 de junho, sua primeira experiência de queima prescrita como forma de prevenção de grandes incêndios. Com o vento, a tendência é que o fogo que está em Corumbá se propague em direção ao Norte, onde fica a reserva.
Com 108 mil hectares, a área que foi comprada pelo Sesc há 30 anos para a criação da reserva no município de Barão de Melgaço e é quase do tamanho da cidade do Rio de Janeiro. O Pantanal tem apenas 5% (7.400 km²) de seus 140.000 km² protegidos em Unidades de Conservação públicas e privadas, e 1% é a reserva particular do Sesc.
Funciona assim: uma equipe aplica chamas em áreas controladas, com vegetação mais adaptada ao fogo. Essa queima ajuda na redução de materiais secos com potencial para propagar o fogo, evitando assim incêndios de grandes proporções, explica a gerente-geral do Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália. Segundo ela, a estratégia serve como barreira para as linhas de fogo e é uma das principais opções de prevenção, considerando as mudanças nos ciclos das águas registradas nos últimos anos.
A queima prescrita feita na Reserva Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal e faz parte do Plano de Manejo Integrado do Fogo — Foto: Jeferson Prado/divulgação
-O Pantanal tem uma influência muito grande do bioma cerrado. As áreas que sofrem o efeito direto de inundação no Pantanal são as matas ciliares, que ficam na margem do rio, e dos campos inundáveis, e são mais sensíveis porque têm um sistema vinculado ao regime da água. Já aquelas áreas que têm um pouquinho mais de altitude, com vegetação um pouco mais de fisionomia de cerrado ou de campos de murundus, que são áreas mais abertas, são mais favoráveis. Aceitam melhor o fogo. E esse fogo da queima prescrita é feito dentro de uma condição de umidade e vento que não deixa ele muito intenso, quase que brando e superficial.
Na operação, participaram em torno de 30 pessoas, entre guardas-parques, brigadistas, bombeiros e funcionários do ICMBio, órgão que precisa aprovar o Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF) . Um caminhão-pipa fica em stand-by e um drone acompanha a operação para que nenhuma fagulha saia do controle.
A queima prescrita feita na Reserva Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal e faz parte do Plano de Manejo Integrado do Fogo — Foto: Jeferson Prado/divulgação
- Não tivemos nenhum problema porque a operação é feita no momento sem vento e com a temperatura mais favorável. É uma técnica que tem se demonstrado muito eficaz e aliada para a prevenção.
O fogo é tradicionalmente usado no Brasil pela população para queima de lixo e para fazer roça, e esse conhecimento é utilizado no processo.
-A nossa principal base é a pesquisa e a ciência, aliada ao conhecimento tradicional, porque sabemos que toda a área rural do Brasil usa o fogo. É a ferramenta mais barata, mais acessível e está arraigada na cultura. Só que a cultura é dinâmica e estamos diante de um cenário em que é preciso fazer algumas adaptações dessa cultura do fogo para que possa ser mais resiliente. O cenário climático hoje é totalmente diferente.
A ideia inicial era que outras queimas controladas fossem feitas, mas vai depender da janela das condições climáticas, explica a pesquisadora.
- Fazemos esse mapeamento e estuda a janela de condições climáticas. Tem que ter uma determinada condição de vento de pressão para que a gente possa fazer esse fogo bom, esse fogo amigo, que é a queima prescrita. Tudo indica que 2024 vai ser o ano mais seco da história que se tem registro. Além desses dados oficiais, percebemos no nosso dia a dia que as áreas que antes estariam ainda com água já secaram completamente. O rio Cuiabá está com um nível extremamente baixo, mais baixo que em 2020.
Fonte: O GLOBO
da redação FM Alô Rondônia