No distrito de Calama, distante 266 quilômetros de Porto Velho, onde moram mais de três mil famílias, a ajuda humanitária ainda não chegou para todos
PORTO VELHO – O desassossego dos moradores ribeiros da calha do rio Madeira, com a invasão e devastação de suas plantações e criações pela enchente deste ano é a prova cabal de que as autoridades só olham com maior interesse para estas comunidades no período eleitoral. Passada essa quadra, os gestores públicos são apenas reativos, incapazes de adotar ações preventivas para minimizar o sofrimento de um povo que já não tem quase nada em se tratando de assistência governamental.
A população ribeirinha ainda espera o cumprimento das promessas feitas por ocasião da grande enchente de 2014.
E quando chegar o período de seca deste ano – que promete ser tão severa quanto a do ano passado, vão reclamar de novo a ausência do poder público, posto que até agora não se ouve notícia de providência para prevenção de danos.
Maior afluente do rio Amazonas, o rio Madeira se aproxima da cota de inundação que é 17 metros, na região de Porto Velho. E se continuar chovendo em profusão, confirmando as previsões meteorológicas, uma tragédia ambiental pode causar prejuízos incalculáveis para os moradores das comunidades ribeirinhas. Nesta sexta-feira, 11, a régua de medição do rio marcou 16,75 metros.
No distrito de Calama, distante 266 quilômetros de Porto Velho, onde moram mais de três mil famílias, a ajuda humanitária ainda não chegou para todos. O mesmo acontece nas comunidades vizinhas, São Carlos e Rio Preto. Roças de mandioca, macaxeira e demais culturas da agricultura familiar, principal fonte de renda das comunidades, foram devastadas pelas águas.
Lideranças comunitárias, barqueiros e moradores falaram com a reportagem do Voz da Terra e relataram atrasos, desinformação e falta de apoio dos governos. A situação se agravou após março, quando a cheia começou a destruir plantações e isolar comunidades. Em Calama, pelo menos quatro bairros foram diretamente afetados: São Francisco, Sapezal, Castanhola e Tancredo Neves. As famílias estão abrigadas em igrejas e em casas de vizinhos que ofereceram ajuda.
“Mesmo quem mora em áreas mais altas perdeu a produção. Já é da cultura ribeirinha plantar às margens do rio. Falta incentivo do governo para preparar a terra em locais mais seguros”, afirma Marivani Reis, que é coordenadora do Movimento Articulado de Mulheres Ribeirinhas.
De acordo com as lideranças em Rio Preto, quatro famílias foram atingidas diretamente, mas ao menos outras 15 perderam suas lavouras. “Eles ainda estão no (terreno) seco, mas sem produção nenhuma.”A Secretaria Municipal de Educação (Semed), decidiu suspender as atividades escolares em dezenas de escolas do baixo Madeira, mas não informa quantos estudantes foram prejudicados.
www.expressaorondonia.com.br, com reportagem de Francisco Costa - da redação do Voz